Vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura representam o Brasil na Feira Internacional do Livro de Guadalajara
Postado em 23 DE dezembro DE 2021Crédito: Universidade de Guadalajara / FIL
Considerada o maior evento literário iberoamericano, a Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL) retornou, em 2021, ao formato presencial com um público de mais de 251 mil pessoas. A delegação brasileira contou com a participação de Claudia Lage, Marcelo Labes e Tiago Ferro, vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura de 2019 e 2020, além da presença dos escritores Itamar Vieira Junior e Oscar Nakasato e da professora Tania Rösing.
Os autores convidados participaram das mesas de debate do programa Destinação Brasil, criado em 2011 por meio de uma aliança entre a Embaixada do Brasil no México, a FIL Guadalajara, a Câmara Brasileira do Livro, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e a Fundação Biblioteca Nacional, com o objetivo de apresentar a diversidade literária do país durante a programação da feira.
Na mesa com a presença de Claudia Lage, Tiago Ferro e Itamar Vieira Junior, o tema abordado foi a conexão entre a literatura, a vida, a ética, a política e a estética. “Coisas que atualmente parecem cada vez mais inseparáveis. Tanto o meu livro como o do Tiago Ferro têm temas difíceis, como o luto e a ditadura. Foi importante refletir como a ficção permite por meio da literatura que a gente não só conte essas histórias, mas também as ressignifique”, destaca a escritora.
A temática da mesa composta por Marcelo Labes e Oscar Nakasato foi o sentido de brasilidade em um país construído por uma grande massa de imigrantes. Para Labes, o debate mostrou que brasileiro é quem vive no Brasil, afinal o país continua em processo de formação. “Recentemente recebemos imigrantes afegãos depois de ter recebido imigrantes sírios e imigrantes haitianos e fazemos isso desde os povos originários até os africanos escravizados, desde quem veio para cá no século 19, 20 e 21.”
Por sua relevância internacional, o evento é uma oportunidade única para divulgar as obras brasileiras e despertar o interesse de editoras de fora pela produção nacional. Segundo o escritor Tiago Ferro, a principal barreira para os nossos livros aportarem em território estrangeiro é o idioma, mas há raízes mais profundas. “Historicamente, o Brasil deu as costas ao restante da América Latina ao alimentar seu sonho de ser o outro gigante do continente. O resultado é que ficamos de fora, salvo raras exceções, da troca intelectual e cultural extremamente vibrante que ocorre entre alguns países.”
Vale ressaltar que os atrativos do evento vão além de fechar negócios e vender livros. “Ver nossas mesas com público espontâneo, gente interessada no Brasil e em nossa literatura só serve para demonstrar o quanto somos responsáveis por dar voz a uma geração e a um país”, observa Marcelo Labes. Para ele, o momento mais marcante do evento foi a visita a uma escola de ensino médio em um município próximo a Guadalajara e a possibilidade de conversar por duas horas com estudantes interessados por seus livros e também pelo Brasil. Já Claudia Lage e Tiago Ferro destacam o contato feito com escritores, professores, pesquisadores e editores de diferentes países.
Prêmio São Paulo de Literatura
De acordo com os escritores, grande parte da projeção alcançada por suas obras ocorreu por conta do Prêmio São Paulo de Literatura (PSPL). Tiago Ferro venceu na categoria de melhor romance de ficção de estreia (2019), com o livro O pai da menina morta (Todavia). Na edição de 2020, Claudia Lage recebeu o prêmio de melhor romance de ficção pela obra O corpo interminável (Record) e Marcelo Labes melhor romance de ficção de estreia com Paraízo-Paraguay (Caiaponte). Os vencedores da premiação também participaram de uma mesa exclusiva para relatar a experiência com o PSPL.
“O prêmio alavancou o interesse pelo meu livro e fez surgir novas leituras e resenhas. Além disso, editores internacionais consideram o prêmio como um fator importante, mas não exclusivo, para considerar a publicação de um título”, diz Tiago Ferro.
Marcelo Labes ressalta o impacto positivo do prêmio em sua vida pessoal. “Esse prêmio salvou a minha vida de diversas formas, a começar pela compra da casa própria. Segundo, por levar o meu livro a novos círculos de leitura, algo que para um escritor de Santa Catarina é muito importante.”
Além da ajuda financeira que possibilitou dedicação integral para escrever seu próximo livro, Claudia Lage aponta a independência da premiação. “Uma característica do PSPL é que suas escolhas são autônomas, sem se deixar guiar pelos outros prêmios mais evidentes do momento, resultando na credibilidade da premiação.”