Conheça experiências de mediação em ambientes de privação de liberdade
Postado em 09 DE outubro DE 2020De Foz do Iguaçu (PR), Cristiane Checchia falou sobre a importância dos cerca de cinco anos do projeto Direito à Poesia, em meio as mais distintas oscilações do próprio funcionamento do sistema prisional. A iniciativa reúne encontros de leitura e oficinas de escrita que procuram trabalhar desde os textos mais canônicos até aqueles que tensionam a própria literatura. A multiplicidade de obras adotadas no projeto tem favorecido, segundo ela, a adesão às atividades. Entre os exercícios que mais marcaram a experiência com as mulheres em situação de privação de liberdade consta a criação do autorretrato poético. Já Mário René Rodrigues Torres, que também participa do Direito à Poesia, compartilhou detalhes do projeto de troca de cartas, que estimula o escrever, e lembrou das escolhas das referências que falam diretamente com o universo das pessoas alcançadas pelas ações (como as obras do escritor Sérgio Vaz e a poeta Dinha).
Sonia Aidar, por sua vez, tratou do Literatura Liberta, lembrando de um questionamento que marcou sua trajetória dedicada às pessoas em situação de privação de liberdade; uma das atendidas chegou a perguntar: "vocês não têm medo da gente?". A presença da equipe mediadora, como conta, tem estimulado não só a escrita, mas também as colagens e os desenhos, abordando ainda a exploração a partir dos cinco sentidos. Sonia acrescentou à sua explanação a experiência com a biblioteca circulante, que leva os livros para dentro destes espaços.
Tatiana Carvalho e Victor Soriano trouxeram para o grupo a experiência na Fundação CASA e no atendimento de 19 destes centros. O Sarau Palavras que Voam, realizado com o Quilombo Urbano de Campinas (SP), foi um dos destaques. Como frisaram, levar a voz dos indivíduos para além dos muros resultou até mesmo um vídeo, apresentado durante a mesa-redonda, e promoveu a conexão com a comunidade de dentro e fora destes espaços. Um concurso de poesia com votação aberta também rendeu detalhes que interessaram aos participantes do encontro virtual.
Henrique Pereira de Souza Neto, diretor da FUNAP (Fundação Prof. Manoel Pedro Pimentel), também participou do evento, apresentando a entidade, instituída pelo Governo do Estado de Sâo Paulo e vinculada à Secretaria da Administração Penitenciária, que conta, este ano, com mais de 170 estabelecimentos penais. A fundação desenvolve políticas públicas para a ressocialização de pessoas privadas de liberdade por meio de programas e projetos sociais.
Saiba mais sobre os participantes
Cristiane Checchia é professora de literatura na Universidade Federal da Integração Latino-Americana e coordenadora do projeto Direito à Poesia, que desenvolve oficinas literárias com pessoas em privação de liberdade nas penitenciárias de Foz do Iguaçu (PR).
Mário René Rodríguez Torres é professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana desde 2014, transitando entre tradução, literatura e ensino de espanhol. Participa dos projetos de extensão Direito à Poesia, La escritura y el afuera e Laboratório de Tradução, vinculados com os temas de literatura e cárcere, com tradução de produções periféricas ou marginais. Com o Laboratório de Tradução, em 2019 publicou o livro Cuarto de desechos y otras obras de Carolina Maria de Jesus. É coordenador da editora da universidade, a EDUNILA.
Sonia Aidar é formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo. Atuou, por 40 anos, como orientadora educacional e coordenadora pedagógica em escolas da rede privada de ensino fundamental e, também, no ensino médio do Centro de Estudar Acaia Sagarana – cursinho para alunos da escola pública. Aposentada, atua como autônoma em trabalhos ligados a editoras e faz parte da equipe do Canal Ávida.
Tatiana Carvalho ingressou na Fundação CASA em 2014, como agente educacional e, atualmente, compõe o quadro da Supervisão Técnica da Divisão Regional Metropolitana Campinas como referência da área de Arte e Cultura.
Victor Soriano é ator, produtor e trabalha na área de relacionamento do Itaú Cultural. Graduado em Comunicação Social pela Universidade Anhembi Morumbi, descobriu desde cedo sua vocação dentro das artes. Produz projetos em diversas áreas de expressão e é responsável pelo programa de parcerias dentro do Educativo do Itaú Cultural.
Heloisa de Souza Dantas é psicóloga, com mestrados em Psicologia Comunitária pela Michigan State University e em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP. Pesquisa as marcas produzidas pelo cárcere em mulheres que passaram pela prisão devido ao tráfico de drogas. Foi diretora técnica de projetos da Associação Horizontes, entidade responsável por cursos educacionais voltados para adolescentes em mais de 60 centros socioeducativos de internação, em São Paulo e no Paraná. É professora convidada do curso de pós-graduação em Psicossociologia da Juventude da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e, desde 2017, atua no coletivo Leitura Liberta.