As bibliotecas e o cachimbo de Magritte fazem parte da Economia Criativa
Postado em 15 DE agosto DE 2019Literatura, obras de arte, games, shows e artesanato são, entre tantos outros bens e serviços, parte do ambiente de negócios da chamada economia criativa. Para funcionar, esta indústria depende essencialmente das pessoas e sua criatividade.
Há 30 anos, a ideia de associar a importância de áreas ligadas à criatividade com o crescimento econômico de um país começava a ganhar espaço. “Atualmente, a economia da cultura é vital para o desenvolvimento", afirmou o advogado Cláudio Lins de Vasconcelos, que participou da 11ª edição do Seminário Internacional Biblioteca Viva.
Na palestra "A Economia da Cultura como Eixo de Desenvolvimento Estratégico do Brasil", Lins de Vasconcelos, que contou com a mediação de Christiano Lima Braga, coordenador da Unidade de Difusão, Bibliotecas e Leitura (UDBL) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, destacou que o capital intelectual do Brasil pode alavancar um salto estratégico de crescimento econômico.
“O nosso setor depende exclusivamente de pessoas. Os robôs não poderão produzir arte que é a linguagem do assombro e da inteligência. Este é um lugar de fala humano”, diz.
A tecnologia faz coisas incríveis. Mas, segundo ele, somente os artistas conseguem produzir algo como a obra Ceci n’est pas une pipe, (Isto não é um cachimbo), do pintor surrealista René Magritte. “Se isso não é um cachimbo, o que é? É essa perplexidade, essa comunicação que faz a arte ter um valor inestimável - e a tecnologia tem as suas limitações”, reflete o palestrante.
Segundo Lins de Vasconcelos, o conteúdo cultural, produto da criatividade humana, está espalhado por tudo: cinema, teatro, dança, música, design, mercado editorial e até nas bibliotecas. Todas essas atividades reunidas movimentam, segundo pesquisa da consultoria empresarial Ernst & Young, de 2015, US$ 2,17 trilhões, em todo o mundo.
No Brasil, de acordo com mapeamento publicado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em 2016, o setor gerou R$ 155 bilhões para a economia brasileira, montante equivalente a 2,6% do PIB brasileiro.
[caption id="attachment_16654" align="aligncenter" width="300"] Levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro[/caption]
De acordo com o relatório publicado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) sobre as tendências internacionais de comércio nas Economias Criativas, entre 2002 e 2015, a expansão global especialmente na moda, cinema, design e artesanato está contribuindo para o Produto Interno Bruto das nações, exportações e crescimento. Na lista dos dez maiores exportadores, entre países em desenvolvimento, figura a Índia, integrante dos BRICs como o Brasil.
“A cultura não é um setor para se virar as costas e o Brasil tem vantagens comparativas. Esta é uma área em que somos bons”, diz o advogado.
Em sua apresentação, Lins de Vasconcelos diz que o país tem vocação. “Temos de Villa-Lobos à Anitta e também novelas, filmes, publicidade e dança. Olha o valor econômico disso”, contabiliza. Entre as vantagens competitivas dessa indústria, ele destaca a menor dependência do estado brasileiro. “Precisamos de infraestrutura de rede, de produção audiovisual, de bibliotecas e, por meio da cultura causamos impactos muito positivos na educação: Quando assistimos a um filme, ficamos diferentes. A cultura, felizmente, é contagiosa”.
No encerramento, o mediador da palestra Christiano Lima Braga pontuou: “As externalidades da cultura são contundentes, além de reduzirem a violência, a depressão. Nós somos reconhecidos lá fora, o que prova a potência da cultura. Mas há a necessidade de interação do Brasil com o mundo e do Estado cuidar disso de maneira eficaz".
[caption id="attachment_16653" align="alignnone" width="300"] O mediador Christiano Lima Braga[/caption]