Literatura se faz com humanidade - Viagem Literária

Literatura se faz com humanidade

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O escritor Ignácio de Loyola Brandão transformou a sua oficina Escrita Criativa em um grande bate-papo. O autor circulou pelas bibliotecas das cidades de Taubaté, São José dos Campos, Jacareí e Guararema, entre 24 e 27 de outubro. Durante os encontros, Loyola explicou como encontrar um bom tema para um livro, quais assuntos devem ser desenvolvidos ao longo da história e como colocá-la no papel.

Para ajudar no desenvolvimento do processo criativo, o escritor usou trechos das próprias obras e indicou trabalhos de outros autores, como Graciliano Ramos, Ernest Hemingway, Luiz Ruffato, Marina Colasanti e Lygia Fagundes Telles. “Não acredito em teóricos que ditam normas, regras e formas. Para escrever, o melhor caminho é o uso da memória e o cultivo da fantasia”, diz.


Ao criar suas obras, o autor procura mostrar a realidade em que vivemos. “Estamos vivendo uma época curiosa em que os novos autores se deram conta de que a realidade brasileira é o assunto, a desigualdade, os preconceitos, a miséria, a fome, os gêneros e as relações amorosas. Literatura se faz com humanidade e coração, com liberdade e sem medo do absurdo”, ensina.

 

Jornalista e escritor, Ignácio de Loyola Brandão passou pelas redações dos principais veículos de comunicação do país. É colunista do O Estado de S.Paulo e tem 45 publicados, entre contos, romances, relatos de viagens e literatura infantil.

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Literatura de Cordel atravessa o século XXI

Literatura de Cordel atravessa o século XXI

A literatura de Cordel no Brasil, também conhecida como folheto, literatura popular em verso, ou simplesmente cordel, no início, estava ligada aos grupos sociais mais pobres do Nordeste – ou “marginalizados. Com suas raízes na oralidade, mais intensamente nas últimas décadas do século XX, essa literatura deixou de ficar restrita às camadas populares; ao contrário, pessoas com formação escolar e intelectuais passaram a compor cordéis. Muitas das antigas histórias continuam sendo reeditadas até hoje. Na modernidade, esta tradição literária continua viva ganhando novos contornos pelas vozes de autoras e autores contemporâneos. Nesta 16ª edição do Viagem Literária, a Cia. Pé do Ouvido, criada em 2013, trouxe para o público de quatro bibliotecas públicas municipais das cidades de Ubarana, Tabapuã, Monte Aprazível e Colina, no interior paulista, entre os dias 20 e 23 de agosto de 2024, um repertório de narrativas e canções que celebram os pássaros e o desejo humano de voar. Mas com um novo ingrediente: todas as histórias são cordéis, escritos por autoras e autores contemporâneos, como Cristiano Gouveia, Sandra Lane, Cascão e Carolina Resende. Cada texto traz um tema, um estilo próprio de versejar, mas uma coisa em comum: as aves são as personagens principais em todos eles.As apresentações da contadora de histórias, Lilia Nemes e do violonista e cantor, Daniel Conti, deixaram as narrações bem musicais, divertidas e poéticas. “Entre uma história e outra, cantamos músicas tradicionais sobre os passarinhos e outras aves e sobre o nosso desejo - muito humano -  de voar”, comenta  a dupla. De geração em geração Para a Cia. Pé do Ouvido, a literatura de cordel é uma manifestação cultural popular, ligada à oralidade, à improvisação, à palavra cantada e aos contextos de festa, de feira, praça e diversão. “É um desafio é também um grande benefício para esses espaços, uma forma de arejá-los com a riqueza e a força dessa cultura nordestina que, por muito tempo, foi considerada, de forma preconceituosa, como "inferior" ou "menor" em relação à cultura escrita dos homens brancos letrados”, comenta Lilia Nemes.Ela acredita que a literatura de cordel tem um papel fundamental na divulgação das tradições culturais brasileiras, tanto pelos temas que os folhetos comunicam, quanto pelas características formais da linguagem, que facilitam sua memorização e consequente repetição pelas pessoas. “A popularidade da literatura de cordel ao longo do tempo e a passagem dessa linguagem de geração em geração mostram a importância dos cordéis como meio de comunicação e expressão da cultura brasileira” , diz Lilia. A Cia. Pé do Ouvido compartilha contos de tradição oral e narrativas literárias. A dupla participou do Viagem Literária, gravou contações de história no programa Quintal da Cultura, da TV Cultura, e tem se apresentado em bibliotecas, unidades do Sesc, centros culturais e escolas. Em 2021, montou seu primeiro espetáculo teatral, Os filhos de Iauaretê, a onça-rei, de Kaká Werá, com direção de Thaís Medeiros. A inspiração para o surgimento da companhia veio do movimento crescente de contadoras e contadores de história na cidade de São Paulo, a partir dos anos 2000. A narração de histórias - esta cultura tão antiga quanto a humanidade - estava sendo retomada com muita força naquela época em muitas cidades brasileiras e eu fiquei encantada com a possibilidade de exercer o meu ofício de atriz numa relação mais direta com o público e com as histórias, sem precisar necessariamente do complexo processo de produção coletiva que uma peça teatral exige. Débora Sperl fundou companhia juntamente com Lilia Nemes e permaneceu como parceira até 2023. 
Drika Nunes: aproximando o nordeste e o sudeste brasileiros com brincadeiras, rimas e alegria!

Drika Nunes: aproximando o nordeste e o sudeste brasileiros com brincadeiras, rimas e alegria!

Entre versos, rimas e contações de histórias, Adriana de Fátima Nunes Lima, a Drika Nunes, concluiu sua jornada na 16ª edição Viagem Literária com a sensação de missão cumprida: o de fortalecer os vínculos entre as culturas do nordeste e sudeste do Brasil, trazendo a Literatura de Cordel, tema do programa de 2024, para o centro da programação das bibliotecas públicas das cidades de Presidente Venceslau, Rosana e Narandiba, no interior paulista, entre os dias 20 e 22 de agosto. O público participante da experiência viva das contações de histórias teve o privilégio de se conectar ainda mais com a cultura popular do país, por meio das rimas, das brincadeiras e da alegria, tudo pela voz de Drika. E a comunicóloga, atriz, contadora de histórias e mediadora de leitura, criadora da Cia. Hespérides, deu seu recado logo de cara nas suas apresentações pelo Viagem Literária: “Senta que lá vem história... conhece essa frase? Vamos lá!”“Por que me assistir? Ô da lincença pra quem tá chegando, que agora eu vou contar, tem história daqui e dalí, desde o sertão até a capitar! Eita que vai ter medo, medinho e medão tudo em forma de cordel, bora olhar pras nossas lendas do imaginário de outros tempos, aquelas todas de fazer xixi na cama! Ainda vai ter interação, brincadeiras e histórias surpresas e depois de tudo, tem é o desafio do cordel, quero ver a criançada toda se desafiar, quem vai chegar?”Um pouco mais de Drika Nunes Acredite. A contadora de histórias confessa ter sido muito tímida e insegura no passado. Antes de atuar como professora de literatura viva no projeto Metamorfoses da ONG Casulo e como professora especialista na arte de contar histórias pela Associação Crescer Sempre, ela conta como foi a transição de professora de literatura viva para atriz, contadora de histórias e mediadora de leitura, e como essas experiências anteriores influenciam seu trabalho atual na Cia. Hespérides – que realiza apresentações nacionais e internacionais em teatros, bibliotecas, praças, centros culturais, escolas, livrarias, presídios e hospitais, para públicos de todas as idades.“O teatro chegou antes, nos tempos da universidade. Eu era muito tímida e insegura e o momento de apresentar o TCC para mim era desafiador, então, fui fazer teatro somente com esse intuito e digo que devia ser obrigatório para qualquer pessoa. Foi terapêutico além de tudo, mas.... não optei em seguir”, relembra a contadora. E tudo foi um sucesso: nota 10 no trabalho, que leu rendeu 3 prêmios. Vida que segue. A "contação de histórias" já havia entrado na vida de Drika, quando cursava uma pós-graduação na arte de contar histórias e era professora em uma universidade na Av. Paulista. À época, foi convidada para trabalhar em sala de leitura na comunidade do Paraisópolis. “Meu coração bateu forte, me tirou o sono; A família toda foi contra (naquele momento a comunidade era bem perigosa)”. relembra. Mas ela abraçou a causa, pediu as contas e atravessava a cidade literalmente de norte a sul, todos os dias da semana. Segundo a contadora, o trabalho que mais lhe deu satisfação, amor, alegrias. A partir disso contar histórias se tornou rotina. Aos finais de semana se apresentava em livrarias (todas) Fnac, Cultura, da Vila, Saraiva, Mega Store, em SP, Cotia e Campinas. Contava histórias 7 dias da semana e claro, mediava leitura e criava tempo para os ensaios e criação de repertório para as Hespérides.“Tive a sorte de ter grandes vozes nacionais e internacionais que me direcionaram a descobrir meu lugar no mundo, mas digo que os meus grandes mestres foram: as livrarias, a comunidade e o contar em hospitais; nenhum profissional-artista me ensinou tanto como o fazer; a prática e me influencia até hoje e acredito que para sempre nesse lugar de aprendizado eterno. (ao menos nessa vida). E foi assim, bem assim, que cheguei até aqui”, destacou a atriz. Contando histórias para promover inclusão e transformação socialEm 2023, Drika Nunes tornou-se patrona na Academia Brasileira de Contadores de Histórias. Destacando essa posição na promoção da arte da narrativa oral no Brasil, ela acredita na importância desse papel social de levar as histórias a todos os cantos dentro e fora do país. “Carrego um nome, que é o meu, mas carrego um país quando estou fora, e em cada lugar, levo comigo a ABCH onde me responsabilizo pelas palavras que brotam no mundo, porque são as minhas palavras, mesmo que elas tenham vindo de livros ou de outras bocas, ainda assim, são minhas, comenta.  Vale lembrar que Drika Nunes também eecebeu o Troféu Baobá, considerado o mais importante dos contadores de histórias do Brasil e meembro da Red Internacional de Cuentacuentos.Citando um ditado Etíope "Quando o coração da gente transborda, ele sai pela boca em forma de histórias", Drika diz que toda boa história começa com o silêncio, observação e verdade. “Faz parte do meu trabalho, criar laço ou minimamente conexão e para isso, há que se ter escuta, que é muito mais que ouvir.  "É uma capacidade que nem tod@s tem e, nessa escuta, entrego o meu melhor para aquele momento. De coração a coração!”  Imagem: Drika Nunes em apresentação na cidade de ROsana (Viagem Literária 2024). 
Eu escuto a cor dos passarinhos

Eu escuto a cor dos passarinhos

Por Jaiane Conceição*Manoel de Barros escreveu, poeticamente, que escutava a cor dos passarinhos. Peço licença poética para dizer que eu escuto o encanto dos olhares. Eles gritam alto, saltam em uníssono, dançam juntos, como a chuva formada em meio a calmaria dos sorrisos encantados das crianças. Os passarinhos observam silenciosos e se encantam também. Suas cores se misturam com os sons silenciosos, formados de respiração profunda antes da gargalhada absoluta que invade o ambiente. Qual a cor do passarinho, Manoel? Que cor você escutou quando escreveu isso?Hoje eu escuto o encanto dos olhares. Sinto o encantamento presente nos silêncios e nas gargalhadas, feitas de passarinhos voando das bocas que se abrem e voam por toda parte. São passarinhos de todas as cores, eu vejo e Manoel também teria visto, se estivesse aqui. A cada gargalhada, os passarinhos saem voando pela biblioteca, preenchem os espaços vazios e pousam sob os livros, tornando-os encantados também. Penso que esses passarinhos, de todas as cores, ficarão escondidos nas páginas desses livros fechados, e cada pessoa que adentrar nessa biblioteca e folhear qualquer um desses livros, os pássaros sairão voando dessas páginas. Suspeito que qualquer pessoa que ousar ouvir o som desses sorrisos, voará junto com os passarinhos. Hoje eu também ouço a cor dos passarinhos, Manoel. Vi até um deles voando para fora da biblioteca. Acho que ele vai pousar em algum sorriso e eu vou seguir ouvindo o encanto dos olhares coloridos. Eu também ouço a cor dos passarinhos. O Viagem Literária é sempre uma emoção diferente e sempre me causa muita emoção. A literatura de Cordel, contada e encantada tão lindamente por Juvenal Bernardes, me transportou para um mundo cheio de passarinhos contadores de histórias. Poder ouvir esses causos e ver como a literatura tem o poder de encantar crianças de todas as idades, mesmo aquelas com 90 anos, é um privilégio que eu sempre vou guardar. Guardarei cada sorriso como um tesouro que deve ser livre, como um olhar que deve ser livro. Pelo menos deveria.[Galeria]*Jaiane Conceição é analista de Programas e Projetos na SP Leituras e também escritora. Ela está acompanhando o roteiro de Juvenal Bernardes no Viagem Literária.