Jogo de palavras - Viagem Literária

Jogo de palavras

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O que pode brotar de uma simples palavra? Para a escritora e jornalista Socorro Acioli a composição de letrinhas pode virar uma infinidade de crônicas, contos, romances, livros infantis, ilustrações e tudo o que a imaginação permitir. A brincadeira, porém, requer algumas técnicas explicadas ao longo das oficinas de escrita criativa De uma só palavra nasce uma história, realizadas pelo programa Viagem Literária nas bibliotecas das cidades de Itu, Itapevi, Cotia e São Paulo, entre 11 e 14 de julho.

 

A primeira dica dos encontros virtuais foi a desconstrução do mito da formação para ser escritor. A profissão é algo que a pessoa simplesmente abraça, não requer nenhum estudo probatório, prova ou qualquer curso específico. “Mas o que vai acontecer com cada carreira, como mercado irá receber cada obra, é outra história”, alerta Socorro. Para ela, qualquer pessoa possui tudo o que precisa para ser escritor, basta apenas enxergar o potencial presente em cada bagagem pessoal. “Um bom começo é se desamarrar das comparações e de tudo o que pode impedir o fluxo criativo. A leitura acompanhada da observação do mundo são ótimos preparativos para mente.”

 

Para ajudar no desbloqueio das ideias, a escritora apresentou algumas técnicas do jornalista, escritor e poeta italiano Gianni Rodari, presentes no livro Gramática da fantasia (1973), um clássico literário que usa fábulas, brincadeiras e outros recursos como estímulo à criatividade. Socorro trouxe para a oficina um compilado dos ensinamentos da obra. “Muitas vezes ficamos estagnados pensando em como iniciar uma história e neste livro temos vários exercícios para destravar a mente. Uma das principais dicas é colocar a mão na massa, afinal como diz Rodari só se aprende a criar no movimento da criação; só se aprende a escrever no movimento da escrita; só se pode criar e escrever com uma mente preparada e livre.”

 

"A imaginação não é uma faculdade qualquer, separada da mente:
 é a própria mente, na sua interação, a qual, solicitada por uma atividade
 mais que por outra, serve-se sempre dos mesmos procedimentos".

Gianni Rodari

 

Batizada como “palavra como semente”, a primeira atividade da oficina consistiu em anotar no papel a primeira palavra que vem à mente e a partir de cada letra criar mais cinco palavras com a mesma inicial. É possível ainda buscar opostos para cada item sugerido. A segunda tarefa chamada de “binômio fantástico” propôs a escolha de duas palavras sem qualquer proximidade ou sentido entre elas. “A ideia aqui é que essas palavras sejam bem estranhas uma à outra para obrigar a nossa imaginação a criar uma ponte entre elas”, explica a escritora.

 

O último exercício foi uma brincadeira de perguntas e respostas. Aleatoriamente, os participantes iam respondendo algumas perguntas para criar uma história. Quanto mais criativa a resposta, mais divertida fica a história. “O interessante nesses exercícios é que cada palavra apesar de possuir um determinado significado carrega um repertório diferente de acordo com as lembranças de cada pessoa, ou seja, temos o senso comum, mas também o senso pessoal”, destaca Socorro.

 

 

Socorro Acioli é autora de Ela tem olhos de céu, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria infantojuvenil, Emília, A bailarina fantasma e o romance Cabeça de santo. Coordena a especialização em Escrita e Criação da Universidade de Fortaleza e é colunista do jornal Diário do Nordeste.

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Tributo à capoeira

Tributo à capoeira

São poucas as pessoas que conseguem transformar a paixão de vida em profissão. Esse é o caso do grupo Mandingueiras da Pracinha formado pelas contadoras de histórias, brincantes e capoeiristas Paula Castro e Camila Signorini. A dupla convidada a participar novamente do Viagem Literária comandou os espetáculos das bibliotecas de Ilhabela, São Sebastião, Biritiba Mirim e Suzano, de 22 a 25 de agosto. As apresentações foram baseadas no livro Em um tronco de Iroko vi a Iúna Cantar, de Erika Balbino. O tema da história já entrega o motivo da escolha. “O livro é sobre dois irmãos que conheceram a capoeira por meio de seres folclóricos, de deuses e entidades da natureza, trazendo recortes sobre a religiosidade afro-brasileira e afro-indígena. É uma aventura encantadora”, detalha Camila. Para a dupla, o Viagem Literária ao promover a aproximação das pessoas com o livro, a leitura e a literatura prova o quanto as bibliotecas são locais de  potência. “Além disso, com o processo de formação de público realizado antes das apresentações, aumenta a interatividade no decorrer do espetáculo, contribuindo com a inclusão de novos elementos no enredo e fazendo a aventura ficar muito mais divertida”, observa Paula. O grupo Mandingueiras da Pracinha atua desde 2017 com narrações de histórias, brincadeiras, vivências e oficinas. No último ano participou do Viagem Literária, da Hora do Conto da Biblioteca Pública de São José do Rio Preto e do Dia do Folclore de Brotas. Desenvolveu projetos contemplados no Edital ProAC Expresso e no Prêmio Nelson Seixas.    
Lições do mundo

Lições do mundo

Que lições as histórias trazem? Para os povos indígenas originários, as lendas, os contos e as tradições orais são uma forma de aprender o mundo. Ao participar do Viagem Literária, o escritor Cristino Wapichana fez questão de levar um pouco desses aprendizados para o público das bibliotecas de Garça, Bauru, Lençóis Paulistas e Botucatu, de 22 a 25 de agosto. Para o programa, selecionou três livros de sua autoria: A onça e o fogo, Sapatos trocados e Ceuci, a mãe do pranto. “O livro da Ceuci fala sobre algo muito valioso nos dias de hoje: o tempo. Ensina a vivermos o presente e sem ficar adiando as coisas”, conta o escritor. Uma das vantagens citadas por Cristino de participar do programa é poder mostrar para as pessoas como vivem os povos originários atualmente, afinal a imagem que muitos têm na cabeça ainda remetem há 200, 300 anos. “Somos pessoas ativas, desempenhamos várias profissões na sociedade, pagamos impostos e participamos ativamente da vida do país. Eu, por exemplo, além de escritor sou músico, cineasta e contador de histórias”, explica. Para ele, é importante a sociedade conhecer a diversidade dos povos originários para que sejam respeitados em sua cultura, no jeito de ser e de estar. “Só assim é possível conscientizar as pessoas para protegerem as matas e os rios e a defenderem as nossas terras, afinal somos todos iguais e compartilhamos do mesmo mundo.” Cristino Wapichana é patrono da cadeira 146º da Academia de Letras dos Professores da cidade de São Paulo. É autor de nove livros e vencedor de premiações relevantes, como o Prêmio Peter Pan, do Internacional Board on Books for Young People, e o Prêmio Jabuti. 
Mitos da criação

Mitos da criação

Contos que falam sobre a origem do universo e dos seres humanos deram o tom das apresentações da Cia. Koi, que percorreu as bibliotecas das cidades de Taubaté, São José dos Campos, Jacareí e Guararema, de 22 a 25 de agosto. Os espetáculos trouxeram para o Viagem Literária a delicadeza da arte japonesa de contar histórias chamada Kamishibai (teatro de papel), que mistura a narração com ilustrações artísticas. “Escolhemos as histórias de origem porque abordam temas essenciais à vida. Muito além da ciência, esses saberes ancestrais nos conectam com a nossa própria essência”, conta a atriz Andressa Giacomini. As encenações musicadas apresentaram os contos do livro Quando tudo começou, de César Obeid. Entre as histórias escolhidas estão o conto chinês O gigante Pan-ku, o conto indiano O sábio Manu e a história do povo originário brasileiro Karib em As criações de Purã. A obra está disponível para empréstimo na BibliON, a biblioteca digital gratuita de São Paulo. O grupo já é um velho conhecido do Viagem Literária e acredita que o programa é um momento único para conectar de forma lúdica e atrativa a literatura, os livros, as histórias, a arte e as bibliotecas. A Cia. Koi foi fundada em 2019, no município de Lins, pela atriz Andressa Giacomini e pela ilustradora Amanda Marques. Desenvolve projetos que circulam em bibliotecas, projetos sociais, escolas e festivais, sendo contemplada com vários prêmios, como Funarte RespirArte, ProAC e Aldir Blanc.