Camila Genaro: ‘Somos humanos e precisamos das histórias, mesmo em tempos de IA”
Para Camila Genaro, para ser uma boa contadora de histórias é necessário ter ouvidos atentos para o mundo - “só assim conseguiremos dialogar com o público”, diz. Há 27 anos contando e escutando histórias, hoje ela ocupa a cadeira 18 da Academia Brasileira de Contadores de Histórias e acumula prêmios como Anita Garibaldi e o Troféu Baobá, considerado o mais importante da categoria no Brasil.
“Todas as vezes que inicio uma apresentação e percebo os olhos brilhantes na minha direção, meu corpo se arrepia. Ali, naquele instante, acontece a ´magia´ do poder da palavra. Quando acabo e recebo afeto é a certeza de que as histórias entraram, de alguma forma, na vida daquelas pessoas de todas as idades”, conta ela, que está em turnê no módulo Contação de Histórias - Literatura de Cordel do Viagem Literária. Confira a entrevista completa:
Qual a importância de levar a literatura de cordel aos espaços públicos?
O tema deste ano [Literatura de Cordel] é de uma importância imensa para que o público do estado de São Paulo conheça outra cultura, outras formas de se contar histórias. O Brasil é gigante em arte e cultura, e nós, contadores e contadoras de histórias somos pontes entre o público e essa cultura.
Como a sua jornada de “escutadora de histórias” influenciou sua abordagem como contadora de histórias e como isso se reflete em suas apresentações hoje?
Para ser um bom contador de histórias é necessário ser um bom escutador de histórias. Ter ouvidos atentos para o mundo. Só assim conseguiremos dialogar com o público. Os contos dizem sem dizer. Abrem conversas profundas, com temas que muitas vezes são difíceis… por isso não acredito numa abordagem com a quarta parede numa apresentação de contação de histórias. Quando conto também escuto.
Como percebe o impacto de suas histórias sobre os públicos?
Todas as vezes que inicio uma apresentação e percebo os olhos brilhantes na minha direção, meu corpo se arrepia. Ali, naquele instante, acontece a “magia” do poder da palavra. Quando acabo e recebo afeto é a certeza de que as histórias entraram, de alguma forma, na vida daquelas pessoas de todas as idades. Conto histórias há 27 anos e tem muita história boa pra contar. Mas, durante a pandemia, contei histórias todos os dias ao vivo pelas redes sociais. E até hoje, as pessoas me mandam mensagens lindas dizendo que “salvei” a sanidade mental delas. E sempre respondo que esses encontros diários também me salvaram.
Quais os principais desafios de usar a internet para disseminar sua arte?
O olho no olho é sempre incrível. A sensação de estar junto é sensacional. Mas quando surgiu a oportunidade de contar histórias na Internet, eu quis testar. E deu certo! Minha voz chegava em muitos lugares que meu corpo ainda não tinha ido. Penso que não temos que substituir o olho no olho pelas telas, mas sim agregar. Trabalhar junto. As tecnologias são uma realidade na maioria das casas. Então, não dá para “brigar” com elas, e sim entender como comunicar de uma outra maneira para que as histórias cumpram seu papel.
Como você vê o futuro da contação de histórias no Brasil?
Vejo um movimento grande de pessoas querendo contar histórias. E isso é lindo. Porque poderemos estar em todos os espaços com diversas vozes. Vejo, também, profissionais de marketing e empresários de todas as áreas bebendo na fonte da oralidade para comunicar com seus clientes. A contação de histórias é uma arte viva e em movimento. Que se transforma de acordo com o tempo que estamos vivendo. Somos humanos e precisamos das histórias, mesmo em tempos de IA.