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Novos paradigmas para avaliação de ações culturais em debate
O modelo atual da avaliação de ações
culturais em bibliotecas é focado em medir impactos para os gestores em termos
quantitativos. No entanto, é preciso acrescentar novas camadas a esse
paradigma, no sentido de visibilizar o valor destes projetos para a sociedade
em geral. Esta foi uma das principais conclusões da mesa “Conversando Sobre -
Avaliação e monitoramento de ações culturais, que aconteceu na tarde de
quinta-feira, 29 de junho, durante o Seminário Internacional Biblioteca Viva.
O debate trouxe reflexões fundamentais sobre a complexidade dos processos de avaliação, escuta e compreensão do público das bibliotecas na perspectiva do que preconiza o Manifesto da Biblioteca Pública IFLA-UNESCO, com a apresentação de experiências inovadoras relacionadas ao tema proposto pelo encontro.
Partindo da lista de 11 missões explicitadas no Manifesto, que ampliam e modernizam as missões da versão anterior, a mesa-redonda destacou dois pontos que dão ênfase ao tema pesquisas contínuas: o primeiro deles diz que as pesquisas “devem se concentrar na avaliação do impacto da biblioteca e na coleta de dados para demonstrar o benefício social das bibliotecas para os agentes formuladores de políticas públicas”e, o segundo, refere-se à crença da UNESCO na biblioteca pública como um "agente essencial para o desenvolvimento sustentável, para o desenvolvimento da paz e bem-estar espiritual de todos os indivíduos".
Para discutir este tema tão amplo, Martina Rillo Otero, do Instituto Clima e Sociedade, conduziu o bate-papo entre a Coordenadora Nacional da Rede de Bibliotecas Escolares de Portugal, Manuela Pargana Silva, e Dani Ribas, diretora da Sonar Cultural Consultoria, doutora em Sociologia pela UNICAMP e Especialista em Gestão e Políticas Culturais pelo Itaú Cultural.
A experiência da Rede de Bibliotecas
Escolares de Portugal: da informação ao conhecimento
Dado o papel relevante que as
bibliotecas desempenham nas escolas no apoio aos alunos e no desenvolvimento de
vários projetos de leitura, a apresentação de Manuela Pargana Silva
contextualizou as ações da Rede na perspectiva do Manifesto, destacando, em
primeiro lugar, os três principais valores trazidos pelo documento, tais como a
liberdade, prosperidade e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. “O
Manifesto é um documento que valoriza a biblioteca", enfatizou Manuela.
Ao traçar um panorama sobre o planejamento estratégico adotado pela Rede, as funções sociais
da biblioteca e os modelos utilizados para se alcançar os objetivos que sejam
coerentes com o Manifesto, a coordenadora salientou, ainda, que todas as ações realizadas estão relacionadas ao
princípio de que pessoas informadas estão mais capazes de exercer sua cidadania
de uma forma responsável e crítica, em suma, diz respeito ao conceito de
equidade.
Neste contexto, especificamente sobre pesquisas
e avaliações, Manuela concorda que avaliar é uma questão muito complexa: “temos
de nos perguntar o que queremos saber de maneira muito objetiva. Este foco é
fundamental. Depois, é preciso definir indicadores que fazem sentido para
aquela questão e que, de fato, possam ser medidos qualitativamente e
quantitativamente, mesclando diversas metodologias. “Reforço a ideia da utilização de métodos complementares de avaliação",
complementou a especialista.
Dani Ribas: “a
habilidade do futuro é saber fazer as perguntas e não ter as respostas.”
De acordo com Dani Ribas, o paradigma atual de avaliação de ações culturais valoriza critérios quatitativos, ou seja, pede a quantidade de público a ser atingido por aquela ação (no caso das bibliotecas, números de frequentadores ou estatísticas de empréstimos de livros, por exemplo). No entanto, a especialista ressalta a insuficiência deste modelo: "o desafio atual é o de enfrentar novas possibilidades de avaliar que não sejam apenas quantitativos para sermos coerentes ao Manifesto da Biblioteca Pública IFLA-UNESCO - que trata a biblioteca pública como um agente essencial para o desenvolvimento sustentável, para o desenvolvimento da paz e bem-estar espiritual de todos os indivíduos", lembrou Dani.
"É preciso pensar em adicionar novas camadas de avaliação qualitativas para visibilizar o valor imensurável de projetos culturais para a sociedade em geral, para estes possoam ser defendidos quando ameaçados por más gestões. Quem vai defender o espaço cultural?", questiona a profissional.
Ficam as reflexões: como medir o bem-estar e a ação transformadora de uma biblioteca? Quais são os pontos a serem considerados para se fazer uma boa avaliação? Como conhecer os públicos e saber fazer as perguntas certas?
Confira a live na íntegra no canal do
Youtube do SisEB.
O 14º Seminário Internacional
Biblioteca Viva aconteceu de forma 100% on-line. Todas as atividades estão
gravadas e têm tradução simultânea em português e Libras.
Confira a programação completa: https://bibliotecaviva.org.br/.