Blog
Direito à paz: projeto oferece livros ucranianos aos refugiados
O dia 24 de fevereiro de 2022 mudou a vida de milhares de
pessoas. Na Ucrânia, muitos foram forçados a fugir de suas casas, incluindo
muitos idosos, crianças e jovens. Se fosse possível fazer as malas, muitas
vezes só eram incluídas as coisas mais necessárias, e muitas outras coisas foram
abandonadas. Entre elas, inúmeros livros relacionados a memórias, tradições,
sobre outros mundos e muito mais.
Nesta manhã, 27 de junho, o Seminário Internacional
Biblioteca Viva recebeu a bibliotecária ucraniana Maria Shubchyk que apresentou
o projeto “Ein Koffer voll mit Büchern: uma mala cheia de livros”, uma
iniciativa para oferecer livros ucranianos às famílias no exterior que tiveram
de deixar seu país por causa da guerra.
Maria Shubchyk, nascida em 1987 em Sevastopol (Ucrânia), é
coordenadora de Projetos de Promoção de Literatura e Tradução no
Goethe-Institut Ucrânia. Trabalhou por mais de 12 anos com bibliotecários,
artistas, autores, ilustradores, editores, festivais literários e iniciativas
de leitura ucranianos e alemães, bem como com organizações da sociedade civil
digital.
Neste encontro, que teve a mediação da gestora cultural, pesquisadora e consultora Beth Ponte, da Ponte Cultura & Desenvolvimento,
mais do que informações técnicas sobre este emocionante projeto, Maria deu seu
forte testemunhal, como uma cidadã ucraniana que teve de deixar o pais com a
filha, em março de 2022, em situação semelhante a de cerca de 5 milhões de
pessoas que estão sendo deslocadas dentro do próprio território e outras 8
milhões que deixaram suas casas repentinamente
- um dos maiores fluxos de
refugiados da história.
“Com duas camisetas e
dois passaportes na mão tive de salvar a minha filha e sair da Ucrânia”, relatou Maria. O
choque foi para todo mundo e, segundo conta a bibliotecária, as pessoas não tiveram
chance sequer de embalar suas coisas. Para as crianças e jovens a separação de
suas famílias e casas foi um trauma. Para Maria, surgiu pergunta, já com uma resposta: onde e como nós podemos ter livros? Livros poderiam
estabilizar as pessoas em meio a uma situação tão trágica. Sua fala é a partir da
posição dos refugiados.
“Uma mala cheia de livros”: embalar toda a sua vida em
uma mala, por isso demos esse nome ao nosso projeto (Maria Shubchyk)
A literatura ucraniana muitas vezes não estava disponível no
exterior, mas, ao mesmo tempo, crescia a necessidade de livros confiáveis em um
novo ambiente, especialmente entre crianças e jovens.
Estabelecer vínculos com bibliotecas alemãs, principalmente,
com o intuito de criar estantes de livros na língua ucraniana foi o primeiro
passo para concretizar os intercâmbios já existentes entre grupos de pessoas
que buscavam na literatura motivação, força e resistência para seguir em
frente.
Ao mesmo tempo, para ampliar o campo apenas da solidariedade e partir para uma ação estruturada, com a eclosão da guerra, o Goethe-Institut Ucrânia teve que reestruturar seu trabalho e direcionou todos os seus recursos para ajudar a sociedade ucraniana nesses tempos difíceis. Assim, por meio de sólidas parcerias, foram lançadas as bases para a proposta de "Uma Mala Cheia de Livros", um projeto do Goethe-Institut em cooperação com a Associação Alemã de Bibliotecas (dbv) e o Instituto Ucraniano do Livro como parte de um pacote abrangente de medidas para as quais o Ministério Federal das Relações Exteriores está fornecendo fundos do orçamento suplementar de 2022 para mitigar as consequências da Guerra de Agressão Russa contra a Ucrânia.
Para se ter uma dimensão do sucesso da ação, o projeto
registra, até o momento, três grandes aquisições de livros (20 mil livros. 89
títulos de 21 editoras ucranianas e 32 autores de literatura infantil). Além
disso, houve a identificação de um interesse maciço por parte das bibliotecas
em manter um acervo de livros ucranianos - 577 bibliotecas só na Alemanha e 11
bibliotecas do Goethe-Institut, além do interesse de instituições de outros
países de Europa - que desempenharam o papel de intermediação e ajudaram a
criar as coleções.
E ainda, conforme destaca Maria, não se trata só de integrar
os livros aos acervos, mas do desenvolvimento e oferecimento de um pacote
ativo, que propõe utilizar outras ofertas das bibliotecas parceiras, a fim de
integrar os refugiados na sociedade. Os pacotes com 50 ou 25 livros atendem a diversos grupos, especialmente de crianças e adolescente e jovens adultos, e vêm acompanhados com um roteiro do projeto.
“Livro” no idioma ucraniano é importante
Maria também se pergunta se nesse mundo ainda há espaço para
a cultura? “Sim, precisamos de bibliotecas e de livros porque é isso que nos
mantém vivos”, acredita. “Na Ucrânia, bibliotecários, autores e editoras estão
no front! Precisamos de cultura mesmo nos tempos difíceis porque ela tem o papel
existencial que nos suporta e nos dá uma base para olhar com esperança para o
futuro.”, diz a bibliotecária.
Quer saber mais detalhes sobre esta iniciativa? Assista a gravação do encontro na íntegra em nosso canal no YouTube.
O 14º Seminário Internacional Biblioteca Viva acontece de forma 100%
on-line. A participação é gratuita e todas as atividades têm tradução
simultânea em português e Libras.
Confira a programação completa:
https://bibliotecaviva.org.br/.