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Democracia cultural e desenvolvimento sustentável: desafios para a gestão pública
A relação entre a democracia cultural e o desenvolvimento
sustentável apresenta desafios crescentes para a gestão pública, agentes da
cultura e sociedade civil, e assume crescente importância e interesse tanto do
ponto de vista conceitual como institucional.
A formulação de propostas para as possíveis articulações
entre cultura, diversidade e desenvolvimento à luz do “Manifesto da BibliotecaPública IFLA-UNESCO 2022” foi o tema central da mesa-redonda "Democracia
cultural e desenvolvimento sustentável", que abriu a 14ª edição do “Seminário
Internacional Biblioteca Viva, na tarde desta segunda-feira, 26 de junho.
Afonso Borges, jornalista, escritor e gestor cultural,
criador do programa “Sempre um Papo” e vice-presidente do Conselho da SP
Leituras, conduziu um bate-papo afiado com a secretária da Cultura e Economia
Criativa do Estado de São Paulo, Marília Marton, com a secretária Municipal de
Cultura de São Paulo, Aline Torres e com o secretário de Formação, Livro e
Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano dos Santos Piúba. Entre as mais
variadas abordagens, uma perspectiva pareceu ser consensual: a cultura como
elemento primordial para o desenvolvimento humano.
Piúba: fomento à leitura deve considerar a
bibliodiversidade
Fabiano dos Santos Piúba tocou em questões relacionadas às
políticas públicas do livro, da leitura e das bibliotecas públicas,
comunitárias e escolares. Para o secretário, a democratização do acesso ao
livro, à leitura e à literatura não se limita ao acesso ao livro, mas
principalmente à promoção da literatura brasileira e fomento dos processos de
criação, formação artística, difusão, circulação e intercâmbio literário em
território nacional.
Nesse sentido, Piúba discorreu sobre algumas ações do
governo para retomar as políticas de leitura e implementar o Plano Nacional do
Livro e Leitura (PNLL). Entre as principais prioridades, ele destaca a
modernização das bibliotecas, a recuperação de bibliotecas públicas fechadas e
a promoção da bibliodiversidade na aquisição de acervos para bibliotecas. Para incentivar
essa diversidade, a Secretaria lançou em abril deste ano, por exemplo, o Prêmio
Carolina Maria de Jesus, que selecionará 40 obras inéditas escritas por
mulheres, com o valor de R$ 50 mil para cada uma das agraciadas. O edital
estabelece cotas importantes, como 20% no mínimo para mulheres negras, 10% para
mulheres indígenas, 10% para mulheres com deficiência, 5% para mulheres ciganas
e 5% para mulheres quilombolas. O MinC prepara outros diversos programas e
editais para incentivar democratização da leitura e formação artística.
Secretária da Cultura do Estado de São Paulo, Marília
Marton defende o fortalecimento profissional da cadeia da Literatura
Para a secretária da Cultura e Economia Criativa do Estado
de São Paulo, Marília Marton, falar sobre a democratização da cultura remete à
reflexão sobre diversos aspectos. O
encontro do cidadão com a leitura, por exemplo, traz para o debate a grande
responsabilidade dos profissionais do setor da literatura, que precisam ser
capacitados para garantir uma boa experiência do público com a linguagem da
literatura. “Precisamos entender que a biblioteca é um espaço público que deve
ser consumido pelas pessoas”, diz a secretária, acrescentando: “A biblioteca
socorre a vulnerabilidade, é um espaço essencial, um dos primeiros lugares de
contato do indivíduo com a leitura, por isso, o cuidado para que os
profissionais estejam preparados". Assim, dentro do conceito da
democratização, Marília também chama a atenção para o fato de que a biblioteca
é também um lugar de produção, não só do silêncio, mas um lugar de convívio, de
onde pode sair grandes produções.
“Atrair público é democratizar as bibliotecas de maneira
sustentável”, diz secretária Municipal de Cultura de São Paulo, Aline Torres
Trazer um olhar para a periferia, fomentando os equipamentos
literários numa perspectiva de descentralização da cultura, é um dos grandes
desafios para uma cidade como São Paulo, que possui atualmente uma rede com 106
bibliotecas municipais, sendo que 53 delas fazem parte da Coordenaria de
Bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura. Para a secretária Aline Torres,
atrair o público e gerações mais jovens para as bibliotecas públicas, que são
verdadeiros espaços de convivência e de cultura, constitui o verdadeiro sentido
da democratização: “Nossa missão é sempre a de formar o leitor”, afirmou. A secretária cita, por exemplo, as
bibliotecas temáticas - inúmeras na cidade, dedicadas à cultura popular,
afro-brasileira, de música - , onde acontecem oficinas, contação de histórias e
outras atividades que possibilitam trazer ao público o principal ativo das
bibliotecas - o livro - por meio de
outras linguagens. Segundo Aline, valorizar a cultura como um todo, incluindo
as diversas manifestações culturais às bibliotecas, é uma das principais pautas
da gestão municipal atual: "Fazemos e organizamos aquilo que o público
quer", enfatizou a secretária.
Assista a gravação do encontro na íntegra em nosso canal no
YouTube. O 14º Seminário Internacional Biblioteca Viva acontece de forma 100%
on-line. A participação é gratuita e todas as atividades têm tradução
simultânea em português e Libras.
Confira a programação completa:
https://bibliotecaviva.org.br/.