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O papel das bibliotecas no combate à desinformação
A mesa-redonda Competência digital, educação midiática e (des)informação apresentou várias referências de como as bibliotecas podem atuar como agentes ativos no combate à circulação de informações falsas, popularmente conhecidas como fake news. Para falar sobre o assunto foram convidados Rodrigo Ratier, professor universitário e jornalista especializado em educação; Victor Terra, da agência Lupa; e a professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Alexandra Bujokas de Siqueira. A mediação foi feita pela coordenadora acadêmica e docente da área de Ciência da Informação, da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo, Valéria Valls.
Rodrigo Ratier começou sua apresentação comentando a importância de entender o que são fake news: publicações comprovadamente falsas, que imitam o formato jornalístico, de autoria oculta e alto poder de viralizar nas redes sociais. “Elas geralmente vêm embaladas como notícia para pegar carona justamente no principal atributo do jornalismo, que é a credibilidade”, destaca. Mas elas também integram um universo mais amplo da desinformação, entregue em forma de manipulação de dados, parcialidade e incompreensão do conteúdo por meio de opinião pessoal, sátira ou paródia.
O jornalista também comentou que existe um oligopólio comandando os conteúdos distribuídos na internet, concentrados nas mãos de cinco grandes empresas: Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft. “Quem decide o que a gente vai ver é o algoritmo, que atua baseado no comportamento dos usuários, com prevalência do entretenimento sobre a informação, do pendor por uma comunicação estridente e da implosão do debate público”, observa. Como dado adicional informou que a cada mil postagens nas redes sociais, apenas uma possui algum link para conteúdo jornalístico.
Além disso, sugeriu que as escolas e as bibliotecas atuem como mediadores desses espaços, repensando o papel da cultura digital para jovens e crianças. Já para o combate efetivo das fake news, Ratier alerta que é preciso estabelecer um trabalho em quatro frentes. Pela tecnologia, com a regulação do que é publicado na internet; pelo Estado, com legislação e apuração, como a CPMI e a PL das Fake News; pelo mercado, com a checagem de fatos e a qualidade da informação divulgada; e pela educação, com programas de educação midiática dentro e fora das escolas.
Foco na educação
Victor Terra também acredita que a educação é essencial para o combate da desinformação, mas o debate não pode ficar restrito a isso. É preciso pensar nas pessoas como sujeitos que produzem, consomem conteúdo e também acreditam em notícias falsas. Também é preciso compreender o propósito de quem está por trás das telas. “Vejam a quantidade de dados que as cinco empresas citadas pelo Rodrigo Ratier possuem. Essas informações superam todos os bancos de dados, sistemas de arquivos e bibliotecas da humanidade”, conta.
Para compreender o universo da disseminação de notícias falsas, Terra diz que é necessário identificar, nomear e classificar os conteúdos desinformativos. Para isso, apresentou o quadro abaixo com o estudo realizado pela autora do First Draft News, Claire Wardle, baseado em três princípios e quatro gêneros de conteúdo.
Terra ainda apontou que o viés cognitivo possui grande relevância na análise das informações, uma vez que as pessoas tendem a enxergar nos textos apenas o que acreditam previamente sobre o assunto. Como dica para lidar com a desinformação, o palestrante sugere a leitura crítica e pragmático do conteúdo recebido, a necessidade de reler e reavaliar, a empatia, a desindentificação, o letramento midiático e o uso dos veículos de checagem.
A responsabilidade da audiência
A professora Alexandra Bujokas de Siqueira trouxe o viés da educação e da mídia para falar sobre a desinformação. Segundo ela, é preciso entender a lógica da decodificação da mensagem e o papel da audiência nesse universo. “Precisamos reconhecer o nosso comportamento de manada, analisar as características desse ambiente onde as pessoas estão cada vez mais expostas a conteúdos tóxicos, o fim da privacidade, a mudança de hábitos e a perda da segurança.” Tudo isso influencia a forma como as pessoas se relacionam nesse ambiente e como respondem ao que leem na internet, o que resulta em atitudes agressivas, como o discurso de ódio.
Para ela, uma alternativa é buscar o equilíbrio no uso desses ambientes, não se deixando influenciar pelo impacto intencional que algumas mensagens carregam e buscando a fonte segura da informação. Saber avaliar esse contexto é fundamental para desenvolver a leitura crítica e não cair nas armadilhas da rede.