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Juventudes, políticas, educação e inclusão: um diálogo sobre jovens e cultura digital
A mesa-redonda Juventudes e
cultura digital reuniu nomes de peso na manhã do dia 5 de julho para contribuir
com os debates em torno das juventudes contemporâneas. Mediado pela
coordenadora do Ibeac e co-gestora da LiteraSampa, Bel Santos Mayer, Delfina
Lázaro Mateus (Moçambique/Universidade Eduardo Mondlane), Paulo Cesar Rodrigues
Carrano (UFF) e Regina Novaes (UNIRIO) abordaram temas fundamentais que estão em
evidência no campo da pesquisa na área de Juventudes, apresentando pistas para
as discussões de como elEs se inserem no cenário das políticas públicas,
movimentos sociais, religião, cultura, cidadania, violência e como a cultura digital e as tecnologias se
estabelecem neste contexto.
Para Paulo Carrano, do
Observatório Jovem do Rio de Janeiro/UFF, a pandemia intensificou o agravamento
da questão social, em especial, na ampliação do quadro de precariedade do trabalho
e acesso à educação escolar para jovens. Mas foi também oportunidade para a
constituição de redes de solidariedade e ajuda mútua, notadamente naqueles
territórios da pobreza onde o poder público se omitiu ou demorou a agir para
minorar os problemas sociais agravados pela pandemia e as medidas de isolamento
social que produziram impactos profundos na economia em comunidades populares
com precárias redes sociais de proteção. “Em grande medida, essas redes de
solidariedade foram criadas e fortalecidas nisso que estamos chamando aqui de
‘Cultura Digital’.”, ressaltou Carrano.
Ao trazer reflexões sobre o nosso
momento social, cultural e político como um preâmbulo que possa inspirar o
diálogo sobre as juventudes e as culturas digitais num registro ampliado e para
além do recorrente caminho que faz com que a preocupação com a técnica se
sobreponha à política, Carrano comentou: “O momento é grave, a técnica, digital
ou não, pode nos ajudar, mas não sairemos do atoleiro sem a produção de esferas
públicas democráticas conflitivas e reflexivas. E penso que isso é desafio para
quem encontra-se envolvido com os aparelhos culturais públicos.”.
“Ao se elaborar políticas
públicas em diálogo com jovens avançamos na construção de redes de proteção
para os mais vulneráveis e na criação de espaços públicos participativos de
encontro e diálogo. É nesta perspectiva que encaro este nosso momento de
diálogo neste 13º Seminário Internacional Biblioteca Viva.”
(Paulo Cesar Rodrigues Carrano
(UFF)
Neste contexto, para a moçambicana
Delfina Lázaro Mateus - mestre em bibliotecas e serviços de informação digital
e doutoranda em Arquivos, Bibliotecas e Documentação no Entrono Digital na
Universidad Carlos III de Madrid -, enquanto algumas nações ou grupos sociais
experimentam um desenvolvimento progressivo, outros continuam, mesmo com a
globalização da tecnologia a registar um conjunto de deficiências, que hoje
também se refletem no contexto digital, ou mesmo na possibilidade de acesso à
tecnologia. “Esta escassez a nível global e local é designada lacuna digital,
porque alguns grupos excluídos, neste caso jovens e adolescentes, não conseguem
aceder a grande parte da informação conectada por recursos tecnológicos devido
a questões sociais, políticas, económicas e culturais.”, afirmou Delfina.
Ela acredita que falar de
acessibilidades e da inclusão dos jovens no ambiente digital implica pensar em
questões de políticas pessoais, psicológicas, económicas, sociais e culturais
que contribuem para a exclusão, e depois pensar em medidas e ações que podem
ser tomadas a estes níveis para garantir que os jovens possam utilizar o
potencial oferecido pelas tecnologias para o seu desenvolvimento.
A antropóloga Regina Novaes, uma
das mais importantes pesquisadoras brasileiras das Juventudes na atualidade,
discorreu sobre sua ampla pesquisa e experiência no campo das juventudes a
partir de múltiplas perspectivas, sobretudo sobre as políticas públicas para
juventude em âmbito nacional. Segundo a pesquisadora, para pensar a juventude
brasileira hoje é preciso levar em conta as contradições, as desigualdades e as
diferenças presentes na sociedade brasileira. E, ao mesmo tempo, pensar de que
maneira e intensidade as transformações sociais em curso atingem
particularmente os jovens. Ou seja, educação de qualidade, inserção no mundo do
trabalho, segurança.
Para ela, práticas digitais
expressam modos de pensar e agir existentes na sociedade em que vivem os
jovens. “Por um lado, a internet serve para exacerbar o consumismo e o
individualismo, bem como servem para potencializar preconceitos preexistentes
(de gênero, de orientação sexual, de raça e etnia, de local de moradia.”,
observou a professora. Sobre o futuro, Regina acredita que deva ser ‘promissor’
e que o momento ainda é de muito questionamento acerca das tecnologias e
pesquisas.
Regina Novaes é graduada em
Ciências Sociais e mestra em Antropologia Social pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro - UFRJ e doutora em Ciências Humanas pela Universidade de São
Paulo - USP. Entre 2010 e 2016 realizou pesquisas e atuou em consultorias sobre
políticas públicas de juventude em Convênios entre a Secretaria Nacional de
Juventude e Unesco, trabalhando em colaboração com grupos de pesquisa da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UniRio e da Universidade
Federal da Bahia - UFBA. Atualmente é professora visitante da UniRio.